Agradeço à você, meu amor, Flávio Maravilha, pela inspiração, pelos pensamentos e mais ainda pelo filho que estamos esperando.
Trata-se do início de um conto, ainda não tem título, nem os personagens tem nome. Tudo vai se desenhando a medida que o tempo for passando...
Te amo!!
Sua, Luciana
"Existem histórias contadas, histórias repetidas e histórias inventadas... Não vou me ater a essas considerações, e permito ao leitor que a absorva da melhor maneira, já que as histórias quando saem da cabeça de quem as pensa, deixam de ser propriedade do mesmo e se perdem e encontram em meio a imensidão de significâncias e significados que os leitores darão a ela.
Já se fazia noite, a brisa leve soprava a baloiçar as imensas cortinas de tecido fino que se obstruía em parte a claridade externa, até que a luz então observada parecia magnanimamente adentrar o quarto se espalhando por uma área limitada me fazendo levantar e seguir em sua direção.
Algo mágico ali acontecia, não havia como continuar alheia ao seu encanto. A camisola longa que recobria meu corpo, a cada movimento parecia se chocar com a energia que se espalhava em mim quando em contato com aquela luz. Meus cabelos, grandes madeixas acastanhadas foram soltas e pude sentir como que se suas ondas fossem parte de um mar a cobrir minhas costas. Algo etéreo se espalhava no ambiente, cujas vestes se faziam desnecessárias. Despi-me e passei a observar a ação daquela luz/energia a se espalhar por meu corpo. O corpo esguio de menina, cintilava em movimentos semelhantes a dança. Os olhos fechados me levavam para outros universos belos, porém indescritíveis. Meus cabelos acompanhavam os movimentos sinuosos como um cavalheiro que conduz a dança. Eram meus cabelos o distinto cavalheiro, suave, sutil e macio com quem tinha me embevecido no baile? Pensamentos voavam... Até que o sol mostrou seus primeiros raios, vesti-me, recostei em meu leito ainda perdida em contemplações e interrogações, até que por exaustão adormeci...
***
O tédio daquela situação deixava em sua face uma expressão dura e distante. Nada se fazia importante ou atrativo naquele lugar, nem a música conseguia envolvê-la... era perceptível o contar das horas como que visualizasse cada grão de areia a esvaziar uma velha ampulheta, e assim estar mais perto do fim daquele sentido martírio.
Poucos grãos faltavam para que o tempo se esgotasse e enfim, fosse libertada da dita convenção, quando lhe surge a frente mais um homem de cartola a fazer-lhe a corte. Esse instigou-lhe os pensamentos, já que se aproximou, cumprimentou e como que a ler seus pensamentos, retirando a cartola a convidou a fazer um passeio afim de fugirem daquele ambiente entediante. Ela teria completado a adjetivação do baile também como hostil, mas guardou seus pensamentos. Sem vacilar, pôs-se de pé, e colocando-se a segurar em seu braço acompanhou o rapaz até a sacada do salão. Como que a libertar-se suspirou, sentiu seus olhos brilharem e o ar a encher seus pulmões ao primeiro encontro que seus olhos tiveram com o céu. Algumas nuvens recobriam o céu, escondendo as estrelas e a lua. Desligou-se por alguns instantes a apenas contemplar o espaço infinito. Pouco depois retomando seus pensamentos, se deu conta do distinto cavalheiro que estava ao seu lado também perdido em pensamentos. O fitou por uns instantes e sem que trocassem uma palavra, seus olhos se iluminaram ao simples questionar a si mesma sobre quem se tratava ser seu salvador, que mesmo sem cavalo e armadura, de forma sutil, a libertara daquela prisão. Me pus a observar cada detalhe daquele homem nunca antes visto. Sua figura causava-lhe algo que não sabia compreender. Observou o desenho de suas mãos que se apoiavam na mureta da sacada, passou por seus braços, pescoço e enfim o rosto. Havia mistério naquele rosto. Seu olhar fitava ao longe, mas aos meus olhos, algo além ele estava a mirar. Um brilho diferente emanava de seu olhar lânguido, bem distante do meu elétrico e ansioso. Resolvi abandonar o observar dos olhos, para mirar adiante, perdida em meus pensamentos sobre de onde vinha aquele ser... Mais uma vez, desliguei-me do mundo e me perdi a esmo, quando senti um suave toque a despertar-me. Sua mão era macia, incrível era conseguir fazer essa observação com um simples tocar no braço, mas podia, sentia.
Conversamos sobre coisas diversas, e me vi a descortinar-se sem sequer saber seu nome, sem medo, sem receios... Meus olhos buscavam descobrir quem o era, e não conseguia. Não havia como ser arredia. Não havia como fugir, apesar de estar sem amarras... Quem era esse homem que me encantava?! A pergunta gritava em minha mente, mas não conseguia uma resposta. Era doce aquele mistério, ao mesmo tempo em que instigava mais ainda meu interesse por conhecê-lo. Ele parecia saber tudo de mim, não havia o que esconder ou camuflar. Meus ombros antes retesados estavam leves, mesmo o corpete, parecia não me incomodar. Os sapatos que antes me aprisionavam os pés, agora pareciam nuvens a deslizar pelo salão do baile aonde ele me conduzia. Foi anunciada a última dança. Continuamos a trocar impressões e sorrisos, mas confesso que meus pensamentos de nada se recordam das palavras. Assimilei apenas a impressão doce, misteriosa e cativante daquele encontro.
A última dança terminou, as despedidas vieram, e com um doce tocar de seus lábios em minha mão, senti meu rosto enrubescer, as têmporas aquecerem, e meu coração palpitar. Quem era aquele cavalheiro misterioso?...
Chegou o momento de recolher-me. Todas as jovens foram conduzidas até um quarto comum, mas ante todas as conversas, risadas, que alegravam o ambiente, me fiz distante optando, dando a desculpa de leve indisposição, recolher-me ao meu aposento particular. A noite seria longa para elas e para mim, que me perdia em meus pensamentos. Jamais tinha sentido algo assim... Precisava ficar só... Será o que sinto o que dizem ser estar se apaixonando? Mas, como se apaixonar por quem nem se sabe o nome? Não se sabe quem é, nem de onde veio?! Até meus pensamentos me deixaram sem interrogações, fiquei a observar, como que entorpecida, por entre as cortinas da janela do quarto a luz da lua ali a adentrar.
Ciana Luna"
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