domingo, 30 de março de 2014

Eis que chega mais um outono...
Folhas há muito jazem amarelas, ressequidas, espalhadas pelo chão...
A temperatura mais amena em nada apazígua o calor da situação
Gênios fortes entram em enfrentamento
Disputando qual dois felinos selvagens o domínio de um território já ocupado
Cada qual com sua destreza se arruinam a cada instante
O que começou amor já se perdeu
Virou folha amarela
Espalhada pelo chão

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Escrevi esse texto após conhecer o homem que chegou promovendo mudanças e se enraizando em minha história de forma fulminante. Ele me trouxe de volta a vida, a arte e à poesia! E hoje, como é seu aniversário, resolvi postar em meu blog, dedicando à ele esse momento genuíno.
Agradeço à você, meu amor, Flávio Maravilha, pela inspiração, pelos pensamentos e mais ainda pelo filho que estamos esperando.
Trata-se do início de um conto, ainda não tem título, nem os personagens tem nome. Tudo vai se desenhando a medida que o tempo for passando...
Te amo!!
Sua, Luciana


"Existem histórias contadas, histórias repetidas e histórias inventadas... Não vou me ater a essas considerações, e permito ao leitor que a absorva da melhor maneira, já que as histórias quando saem da cabeça de quem as pensa, deixam de ser propriedade do mesmo e se perdem e encontram em meio a imensidão de significâncias e significados que os leitores darão a ela.

Já se fazia noite, a brisa leve soprava a baloiçar as imensas cortinas de tecido fino que se obstruía em parte a claridade externa, até que a luz então observada parecia magnanimamente adentrar o quarto se espalhando por uma área limitada me fazendo levantar e seguir em sua direção.

Algo mágico ali acontecia, não havia como continuar alheia ao seu encanto. A camisola longa que recobria meu corpo, a cada movimento parecia se chocar com a energia que se espalhava em mim quando em contato com aquela luz. Meus cabelos, grandes madeixas acastanhadas foram soltas e pude sentir como que se suas ondas fossem parte de um mar a cobrir minhas costas. Algo etéreo se espalhava no ambiente, cujas vestes se faziam desnecessárias. Despi-me e passei a observar a ação daquela luz/energia a se espalhar por meu corpo. O corpo esguio de menina, cintilava em movimentos semelhantes a dança. Os olhos fechados me levavam para outros universos belos, porém indescritíveis. Meus cabelos acompanhavam os movimentos sinuosos como um cavalheiro que conduz a dança. Eram meus cabelos o distinto cavalheiro, suave, sutil e macio com quem tinha me embevecido no baile? Pensamentos voavam... Até que o sol mostrou seus primeiros raios, vesti-me, recostei em meu leito ainda perdida em contemplações e interrogações, até que por exaustão adormeci...
***

O baile há muito tinha terminado, mas as impressões daquela noite se faziam presentes a cada instante, a povoar os pensamentos. O grande salão repleto de babados e cartolas, em nada se faziam atraentes para nossa menina, ainda acostumada a correr e rolar pelos campos. Mas, as convenções impunham que se fazia hora de apresentar-se a sociedade. As vestes apertadas incomodavam e a prendiam como se ali estivesse num calabouço. Ainda pior que um calabouço, pois ali não podia gritar. Sua dura pena entre aquelas cordas, tecidos e calçados era manter-se firme, em silêncio, em tom de graça e altiva. Vez por outra via surgir a sua frente homens a fazerem a corte. Homens que observava jamais terem sido capazes de correr pelos campos, quanto mais observar as estrelas do alto de uma árvore, coisa costumeira de fazer quando seus pensamentos não queriam mais caber no limite de sua cabeça. Sem falar que a idade se fazia adiantada, o que os impossibilitaria de correr, mesmo que quisessem.

O tédio daquela situação deixava em sua face uma expressão dura e distante. Nada se fazia importante ou atrativo naquele lugar, nem a música conseguia envolvê-la... era perceptível o contar das horas como que visualizasse cada grão de areia a esvaziar uma velha ampulheta, e assim estar mais perto do fim daquele sentido martírio.

Poucos grãos faltavam para que o tempo se esgotasse e enfim, fosse libertada da dita convenção, quando lhe surge a frente mais um homem de cartola a fazer-lhe a corte. Esse instigou-lhe os pensamentos, já que se aproximou, cumprimentou e como que a ler seus pensamentos, retirando a cartola a convidou a fazer um passeio afim de fugirem daquele ambiente entediante. Ela teria completado a adjetivação do baile também como hostil, mas guardou seus pensamentos. Sem vacilar, pôs-se de pé, e colocando-se a segurar em seu braço acompanhou o rapaz até a sacada do salão. Como que a libertar-se suspirou, sentiu seus olhos brilharem e o ar a encher seus pulmões ao primeiro encontro que seus olhos tiveram com o céu. Algumas nuvens recobriam o céu, escondendo as estrelas e a lua. Desligou-se por alguns instantes a apenas contemplar o espaço infinito. Pouco depois retomando seus pensamentos, se deu conta do distinto cavalheiro que estava ao seu lado também perdido em pensamentos. O fitou por uns instantes e sem que trocassem uma palavra, seus olhos se iluminaram ao simples questionar a si mesma sobre quem se tratava ser seu salvador, que mesmo sem cavalo e armadura, de forma sutil, a libertara daquela prisão. Me pus a observar cada detalhe daquele homem nunca antes visto. Sua figura causava-lhe algo que não sabia compreender. Observou o desenho de suas mãos que se apoiavam na mureta da sacada, passou por seus braços, pescoço e enfim o rosto. Havia mistério naquele rosto. Seu olhar fitava ao longe, mas aos meus olhos, algo além ele estava a mirar. Um brilho diferente emanava de seu olhar lânguido, bem distante do meu elétrico e ansioso. Resolvi abandonar o observar dos olhos, para mirar adiante, perdida em meus pensamentos sobre de onde vinha aquele ser... Mais uma vez, desliguei-me do mundo e me perdi a esmo, quando senti um suave toque a despertar-me. Sua mão era macia, incrível era conseguir fazer essa observação com um simples tocar no braço, mas podia, sentia.

Conversamos sobre coisas diversas, e me vi a descortinar-se sem sequer saber seu nome, sem medo, sem receios... Meus olhos buscavam descobrir quem o era, e não conseguia. Não havia como ser arredia. Não havia como fugir, apesar de estar sem amarras... Quem era esse homem que me encantava?! A pergunta gritava em minha mente, mas não conseguia uma resposta. Era doce aquele mistério, ao mesmo tempo em que instigava mais ainda meu interesse por conhecê-lo. Ele parecia saber tudo de mim, não havia o que esconder ou camuflar. Meus ombros antes retesados estavam leves, mesmo o corpete, parecia não me incomodar. Os sapatos que antes me aprisionavam os pés, agora pareciam nuvens a deslizar pelo salão do baile aonde ele me conduzia. Foi anunciada a última dança. Continuamos a trocar impressões e sorrisos, mas confesso que meus pensamentos de nada se recordam das palavras. Assimilei apenas a impressão doce, misteriosa e cativante daquele encontro.

A última dança terminou, as despedidas vieram, e com um doce tocar de seus lábios em minha mão, senti meu rosto enrubescer, as têmporas aquecerem, e meu coração palpitar. Quem era aquele cavalheiro misterioso?...

Chegou o momento de recolher-me. Todas as jovens foram conduzidas até um quarto comum, mas ante todas as conversas, risadas, que alegravam o ambiente, me fiz distante optando, dando a desculpa de leve indisposição, recolher-me ao meu aposento particular. A noite seria longa para elas e para mim, que me perdia em meus pensamentos. Jamais tinha sentido algo assim... Precisava ficar só... Será o que sinto o que dizem ser estar se apaixonando? Mas, como se apaixonar por quem nem se sabe o nome? Não se sabe quem é, nem de onde veio?! Até meus pensamentos me deixaram sem interrogações, fiquei a observar, como que entorpecida, por entre as cortinas da janela do quarto a luz da lua ali a adentrar.

Ciana Luna"

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Insônia
Teto, paredes, tv,imagens confundem meus pensamentos e como a hipnotizar-me, adormeço.
O som da tv ligada se apropria dos meus sonhos e o despertar é inevitável.
Duas bilhas parecem iluminar meus pensamentos sem sequer eu as conseguir enxergar.
Desligo a tv, o acomodar entre as cobertas e travesseiros se faz como que a transformar o espaço limitado da cama, num ninho que me abrace durante o novo sono...
Agora, só o som do ventilador me embala feito uma canção de ninar. Fecho os olhos, pois as bilhas brilhantes que não enxergo estão a me agitar ao mesmo tempo em que minhas pálpebras feito portões de um reino perdido, cujo homens o sustentam com cordas a puxar e soltar, parecem implorar pelo descanso próprio depois que passam o dia a carregar o peso do portão antigo de troncos de árvores que restringem o acesso ao reino. Respiro fundo, enfim relaxo e autorizo o descansar dos rapazes que realizam tão árduo trabalho.
Cerro os portões, os cílios enfim se encontram, as pálpebras ansiosas se tocam languidamente. Como mágica meus pensamentos me levam para o mundo das minhas analogias... Enfim sonho... Enfim o adormecer acontece... Meu corpo profundamente relaxado permite que meu espírito aos poucos se desprendae se dirija ao mundo real, chego aos portões do meu reino apenas para me certificar que os homens enfim, sairam de seus postos para um momento de descanso.A luz da lua inebria meus pensamentos... Caminho silenciosamente... estou meio entorpecida, estrelas e lua bailando no céu. Eis que me surge uma pedra no chão e tropeço. INstantaneamente, os homens erguem o portão, minhas bilhas brilhantes se dão conta da luz que acaba de entrar pela minha janela anunciando o dia que começa a alvorecer. Já não mais adormeço, as pupilas dilatam e me percebo um zumbi que mais uma vez fica ser dormir.
Bom dia!

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Uma mosca me agonia os sentidos
Sobrevoa pensamentos
Por hora sujos
Por hora adequados
Ela zune em meus ouvidos
Rasantes, rodopios, e ameaças de pouso
Não deixam que a acerte
Pensamentos voam...
Pensamentos se perdem...
O som da tv alta tira minha atenção
Como acertar esse ser que rodopia atrapalhando meu pensar?
Ela explora o espaço com velocidade
Não tenho como acompanhar seu voar
Nuvens de inseticida se espalham pelo ar
Meus olhos ardem ao contato com o pouco de umidade que o spray liberou
Um filete de janela aberta
Lá se foi a mosca
Depois de zunir meus pensamentos
Embaralhar minhas idéias
Arder meus olhos
A seguir seu fadado destino
Sem medo
Simplesmente seguirá
Sem rumo
Sem sentido
Enquanto a vida não lhe acertar
E antes que suas minúsculas asas parem de se mover
Ela não vai parar
Sem arder de olhos
Sem zunir pensamentos próprios
Sem se dar conta do que há a volta
Ela e o espaço se cruzam
Nessa simbiose que acabará
Apenas no fim do ciclo
Do seu ciclo
E eu?! Ah... Eu...
Com olhos ardendo
Raiva da mosca
Presa no limite do meu espaço
A Voar por aqui

terça-feira, 26 de março de 2013

Sou como a pedra de Drummond, só não sei se sou a pedra ou se ela está no meu caminho.
Sou Luz que irradia em volta com energia própria.
Sou bruxa que amedronta e enfeitiça os olhos de criança.
Sou noite enluarada que em suas fases se enche e eclipsa ao menor suspiro.
Sou alguém que ama e precisa se sentir amada pra seguir adiante.
Sou o parto da poesia que se parte para me deixar coexistir.
Sou como Dom Quixote que luta contra os moinhos em busca da minha versão masculina da doce Dulcinéa.
Sou como alguém que grita por silêncio e morre sem som.
Sou uma "pomba branca" que se transmuta em uma "mulher bomba" a explodir em línguas!
Sou como a tempestade da música na voz da Elis!!!

Rebento (Gilberto Gil)

Rebento
Substantivo abstrato
O ato, a criação, o seu momento
Como uma estrela nova e o seu barato
Que só Deus sabe, lá no firmamento
Rebento
Tudo o que nasce é rebento
Tudo o que brota, que vinga, que medra
Rebento, claro como flor na pedra
Rebento, farto como trigo ao vento
Outras vezes rebento simplesmente
No presente do indicativo
Como as correntes de um cão furioso
Ou as mãos de um lavrador ativo
Às vezes mesmo perigosamente
Como acidente em forno radioativo
Às vezes, só porque fico nervosa, rebento
Às vezes, somente porque estou VIVA!
Rebento
A reação imediata
A cada sensação de abatimento
Rebento
O coração dizendo: bata!
A cada bofetão do sofrimento
Rebento, esse trovão dentro da mata
E a imensidão do som nesse momento

segunda-feira, 18 de março de 2013

"Somos prisioneiros de uma vaga loucura
Somos prisioneiros de um amor solitário
Somos prisioneiros de uma longa carência
Somos prisioneiros de uma amizade perdida

Liberdade para nós,
foge aos dedos
Criamos coragem para descobrirmos o infinito,
e construir muralhas.
Criamos coragem para abrirmos nossas portas,
e destruir frustrações.

Somos os iludidos da noite
Acreditamos nos outros, na fala
e no amor

Cremos podermos revolucionar o mundo
e nós mesmos
Gritamos felizes por uma vitória oca
e caímos por terra frente a luta

Somos prisioneiros de nós mesmos
e vencemos a eterna luta de nos destruirmos
Somos enfim, a única crença do amanhã
Pois ainda existimos
dentro de nossa loucura"

"Sempre vejo folhas cairem no chão e não mais quero ter que arrumá-las.
As pus na mesa, arrumadas, e caso elas caiam com o vento, ajudarei a soprá-las.
Me programei para voar junto com as folhas,
metamorfoseei-me e me fiz igual a elas.
Estou em cima delas esperando por voar.
Não mais quero pesar sobre elas."
Ciana Luna 24/02/00